Os diamantes eram colônias bacterianas?

Marilyn Monroe e Liz Taylor adoravam brilhantes. Continuariam adorando se soubessem que um dia eles foram bactérias?

PETER MOON

Marilyn Monroe cantando “Diamonds are the girls
 best friends” no filme Os homens preferem as 
loiras (1953)
“Nunca odiei um homem o bastante para devolver os diamantes que ele me deu”, dizia a atriz Zsa Zsa Gabor. “Big girls need big diamonds”, dizia Elizabeth Taylor. “Diamonds are a girl's best friend”, cantava Marilyn Monroe… “Um diamante é um pedaço de carvão que fica melhor sob pressão”, afirmou o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger. Zsa Zsa, Liz, Marilyn... A visão feminina é sempre mais poética e romântica. Homens tendem a ser pragmáticos. O que lhes falta em poesia sobra em razão. É, meninas, perdão, mas Kissinger tinha razão. Diamantes são pedaços de carvão da melhor qualidade. Diamantes são cristais de carbono. O carvão é constituído em sua maior parte pelo elemento químico carbono. E a vida na Terra é baseada em moléculas de carbono. Decorre que boa parte dos diamantes que reluzem nos pescoços e dedos femininos teria sido um dia, há bilhões de anos, colônias bacterianas que habitaram oceanos primitivos.

A origem orgânica de muitos (mas não todos) os diamantes é uma hipótese em estudo desde os anos 1980, quando foi sugerida primeiramente por geólogos soviéticos (Sobolev & Sobolev. 1980). Não me perguntem qual é a diferença entre os diamantes peridotíticos e os diamantes eclogíticos. Tentei entender o significado indecifrável destes palavrões geológicos lendo os estudos abaixo – e confesso que não entendi porra nenhuma. Para nós, basta saber que 2/3 dos diamantes são peridotíticos e 1/3 são eclogíticos. Estes últimos, os eclogíticos, são os que interessam, pois são aqueles cujo carbono pode ter tido uma origem biológica.

Imagine um oceano primordial, um oceano onde a vida era microscópica, formada por algas unicelulares e bactérias. Entre 3,2 bilhões e 2,5 bilhões de anos atrás, microorganismos assim flutuavam a esmo, acumulando e agregando o carbono em solução na água que havia sido absorvido da atmosfera primitiva. Quando estas colônias de microorganismos morriam, seu destino era cair nas profundezas para se depositar no solo abissal, tornando-se nódulos biológicos, ou nódulos de carbono. Uma vez lá embaixo, processos geológicos operando ao longo de milhões de anos - como a abertura de fissuras no leito oceânico – acabaram por tragar os nódulos para as profundezas incandescentes do planeta. Foi lá, entre 160 e 200 km de profundidade, no manto de rocha líquida que sustenta a crosta terrestre, que os nódulos foram cozidos em fogo lento.

Por um tempo quase inimaginável, os nódulos foram submetidos a condições formidáveis de temperatura e pressão. O que saiu daquelas antigas “panelas de pressão” geológicas foram diamantes, as gemas mais duras que existem. O passeio todo pelo interior do planeta deve ter durado uns 500 milhões de anos. Decorrido esse lapso de tempo inimaginável, as gemas retornaram à superfície pegando carona na lava expelida e ejetada por vulcões. Hoje, elas embelezam as mulheres ou servem para perfurar rochas nas brocas de exploração petrolífera.

A possibilidade de boa parte dos diamantes ter tido uma origem orgânica pode jamais ser comprovada – embora seja uma hipótese cada vez mais aceita pelos cientistas. É uma ideia bela e inspiradora. Saber que os diamantes podem um dia ter sido seres vivos dá a dimensão da força descomunal com que a evolução da vida transformou e transforma o planeta em que vivemos. A revelação da origem orgânica dos diamantes, que desconhecia, eu devo à leitura de Here on Earth – A new beginning (Allen Lane, 316 páginas, £ 14,99), o novo livro do zoólogo, paleontólogo, ambientalista e escritor australiano Tim Flannery.

Referências:

Cartigny P., J.W. Harris, & M. Javoy. 1999. Eclogitic, peridotitic and metamorphic diamonds and the problems of carbon recycling: The case of Orapa (Botswana). In: Proceedings of the 7th International Kimberlite Conference. J.J. Gurney, J.L. Gurney, M.D. Pascoe, S.H. Richardson (eds.), Red Roof Design, Cape Town, 1:117-124.
Sobolev, V.S., & N.V. Sobolev. 1980. New proof on very deep subsidence of eclogitized crustal rocks. Doklady Akademii Nauk SSSR 250(3):683-685.

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