PALEONTOLOGIA - Tumor ósseo é achado na cauda de um dinossauro brasileiro

Vértebra de titanossauro com detalhe ampliado, mostra uma deformidade que foi diagnosticada como um tumor ósseo


Estudo da vértebra de um titanossauro que viveu em São Paulo revelou uma deformidade parecida com câncer

PETER MOON


Um tumor ósseo foi descoberto em uma vértebra fossilizada de um titanossauro, um daqueles enormes dinossauros quadrúpedes pescoçudos que habitaram o Brasil no período Cretáceo superior, entre 100 milhões e 90 milhões de anos atrás. Os únicos tumores já diagnosticados em dinossauros foram achados no Canadá em fósseis de hadrossauros, um tipo particular de dinossauros que tinha bico de pato. O tumor diagnosticado no fóssil brasileiro é, portanto, o primeiro encontrado em um dinossauro que não é um hadrossauro. 

O fóssil em questão é uma vértebra da cauda de um titanossauro, descoberto em Alfredo Marcondes, no extremo Leste do Estado de São Paulo. O fóssil mede 17 cm de comprimento, 8,9 cm de largura e 10,5 cm de espessura e se encontra no Departamento de Geologia of Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

O trabalho foi liderado pelo paleontólogo Fernando Henrique de Souza Barbosa, com participação dos paleontólogos Paulo Victor Pereira e Lílian Paglarelli Bergqvist, todos da UFRJ. 

Participou ainda do trabalho o americano Bruce M. Rothschild, do Museu Carnegie de História Natural, de Pittsburgh. Rothschild é o maior especialista do mundo em paleopatologia, a área da paleontologia dedicada ao estudo de doenças e deformidades no esqueleto de fósseis. O estudo acaba de ser publicado no periódico Cretaceous Research.

Como a vértebra foi encontrada isolada do restante do esqueleto, não se pode identificar a qual espécie pertenceria, mas que é da família dos titanossauros, os maiores animais que já pisaram os continentes, quanto a isto não há dúvidas.

Ao investigar aquele fóssil, os pesquisadores descobriram uma pequena deformidade de cerca de um centímetro de diâmetro que se parecia com um tumor ósseo. A análise daquela protuberância através de imagens feitas via tomografia computadorizada revelou uma massa densa esclerosada parecida com marfim.

A princípio havia dois diagnósticos possíveis. A protuberância poderia ser um osteoma, um tumor benigno ósseo de crescimento lento; ou então um hamartoma, um tumor onde as células ósseas crescem de forma descontrolada e que, raramente, pode resultar em um tumor maligno. Esta última hipótese foi descartada quando a análise pormenorizada comprovou se tratar de um osteoma.

Entre os dinossauros, tumores (um deles proveniente de uma metástase) foram detectados por duas vezes em hadrossauros canadenses, provavelmente da espécie Edmontossauro.

Osteomas tanto malignos quanto benignos já foram diagnosticados em fósseis de vários animais de épocas distintas. Na América do Norte, estes foram os casos de um peixe de 300 milhões de anos; de um mosassauro, um réptil marinho gigante, de 80 milhões de anos; e de um crocodilo há 60 milhões de anos. Na América do Sul, um tumor ósseo foi identificado em uma baleia chilena de 5 milhões de anos.


Referência:

Fernando Henrique de Souza Barbosa, Paulo Victor Luiz Gomes da Costa Pereira, Lílian Paglarelli Bergqvist & Bruce M. Rothschild (2016) Multiple neoplasms in a single sauropod dinosaur from the Upper Cretaceous of Brazil. Cretaceous Research 62: 13–17
doi:10.1016/j.cretres.2016.01.010

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