Peter Moon
Em 1633, o astrônomo, matemático e inventor florentino Galileu Galilei (1564-1642) foi acusado pela Inquisição de afirmar que a Terra gira em torno do Sol. O sábio foi forçado a negar em público suas ideias para escapar do mesmo destino de Giordano Bruno, morto na fogueira em 1600. Galileu foi condenado pelo papa Urbano VIII à prisão domiciliar pelo resto da vida. Foram necessários 359 anos para a Igreja absolvê-lo. Em 1992, Karol Wojtyla, o papa João Paulo II, reconheceu que Galileu estava certo e a Inquisição errada. O papa era polonês como Nicolau Copérnico (1473-1543) – o homem que descobriu que a Terra não ficava no centro do Universo. Copérnico era padre. Trabalhou em segredo por 30 anos e só teve coragem de publicar sua teoria em 1543, já à beira da morte.
À diferença de Copérnico, Galileu não tinha medo. Era arrogante e combativo. Há 400 anos, em 1609, aperfeiçoou a luneta. Graças ao instrumento, descobriu quatro luas em Júpiter, crateras na Lua e manchas no Sol. As observações mostraram que Copérnico tinha razão. Galileu passou a defender suas ideias em debates e livros. Reconhecido como o maior sábio da Europa, adorava demolir os argumentos de seus opositores, quase sempre teólogos ortodoxos e obtusos. Fez uma legião de inimigos. Eles aguardaram anos pela oportunidade da revanche. Seu objetivo era calar aquela mente brilhante, o que foi alcançado em 1633, lê-se no excelente Galileu Anticristo – Uma biografia, de Michael White (Record, 336 páginas, R$ 47, tradução de Julián Fuks).
Apesar da absolvição em 1992, ainda há insatisfeitos. Em janeiro de 2008, professores e alunos da Universidade La Sapienza, de Roma, divulgaram uma carta contra o papa Bento XVI, que daria a aula inaugural do ano letivo. A carta cita uma palestra de 15 de março de 1990, do então cardeal Joseph Ratzinger. “A questão dos limites da ciência e os critérios que deve observar se tornaram incontornáveis. Particularmente emblemático é o modo como o caso de Galileu é visto. O episódio foi elevado ao mito pelo Iluminismo. Galileu apareceu como vítima do obscurantismo medieval que sustenta a Igreja. O bem e o mal ficaram claramente distintos”, disse Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o atual nome da Inquisição. “De um lado, está a Inquisição: o poder que encarna a superstição, a adversária da liberdade e da consciência. Do outro, há a ciência natural representada por Galileu: a força do progresso e da libertação da humanidade das correntes da ignorância. Hoje, as coisas precisam mudar.” Para Ratzinger, “a Igreja do tempo de Galileu se manteve mais perto da razão. Levou em consideração as consequências éticas e sociais da doutrina de Galileu. O veredicto foi racional e justo”. Por isso é importante conhecer a vida de Galileu. Urbano VIII o calou. Quem se lembra de Urbano VIII?
Publicada originalmente em 03/04/2009, em ÉPOCA.
Em 1633, o astrônomo, matemático e inventor florentino Galileu Galilei (1564-1642) foi acusado pela Inquisição de afirmar que a Terra gira em torno do Sol. O sábio foi forçado a negar em público suas ideias para escapar do mesmo destino de Giordano Bruno, morto na fogueira em 1600. Galileu foi condenado pelo papa Urbano VIII à prisão domiciliar pelo resto da vida. Foram necessários 359 anos para a Igreja absolvê-lo. Em 1992, Karol Wojtyla, o papa João Paulo II, reconheceu que Galileu estava certo e a Inquisição errada. O papa era polonês como Nicolau Copérnico (1473-1543) – o homem que descobriu que a Terra não ficava no centro do Universo. Copérnico era padre. Trabalhou em segredo por 30 anos e só teve coragem de publicar sua teoria em 1543, já à beira da morte.
À diferença de Copérnico, Galileu não tinha medo. Era arrogante e combativo. Há 400 anos, em 1609, aperfeiçoou a luneta. Graças ao instrumento, descobriu quatro luas em Júpiter, crateras na Lua e manchas no Sol. As observações mostraram que Copérnico tinha razão. Galileu passou a defender suas ideias em debates e livros. Reconhecido como o maior sábio da Europa, adorava demolir os argumentos de seus opositores, quase sempre teólogos ortodoxos e obtusos. Fez uma legião de inimigos. Eles aguardaram anos pela oportunidade da revanche. Seu objetivo era calar aquela mente brilhante, o que foi alcançado em 1633, lê-se no excelente Galileu Anticristo – Uma biografia, de Michael White (Record, 336 páginas, R$ 47, tradução de Julián Fuks).
Com sua luneta, Galileu viu que o céu não era composto de esferas fixas, como na gravura de um autor anônimo do século XVI |
Apesar da absolvição em 1992, ainda há insatisfeitos. Em janeiro de 2008, professores e alunos da Universidade La Sapienza, de Roma, divulgaram uma carta contra o papa Bento XVI, que daria a aula inaugural do ano letivo. A carta cita uma palestra de 15 de março de 1990, do então cardeal Joseph Ratzinger. “A questão dos limites da ciência e os critérios que deve observar se tornaram incontornáveis. Particularmente emblemático é o modo como o caso de Galileu é visto. O episódio foi elevado ao mito pelo Iluminismo. Galileu apareceu como vítima do obscurantismo medieval que sustenta a Igreja. O bem e o mal ficaram claramente distintos”, disse Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o atual nome da Inquisição. “De um lado, está a Inquisição: o poder que encarna a superstição, a adversária da liberdade e da consciência. Do outro, há a ciência natural representada por Galileu: a força do progresso e da libertação da humanidade das correntes da ignorância. Hoje, as coisas precisam mudar.” Para Ratzinger, “a Igreja do tempo de Galileu se manteve mais perto da razão. Levou em consideração as consequências éticas e sociais da doutrina de Galileu. O veredicto foi racional e justo”. Por isso é importante conhecer a vida de Galileu. Urbano VIII o calou. Quem se lembra de Urbano VIII?
Publicada originalmente em 03/04/2009, em ÉPOCA.
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