A ressaca é tão antiga como o pilequinho. Já que não dá para evitá-la...
Peter Moon
O vinho era consumido no Irã há 7 mil anos. Os antigos egípcios faziam 17 tipos de cerveja. Os arqueólogos suspeitam que o consumo de bebidas alcoólicas anteceda a invenção da agricultura, há 10 mil anos. Mesmo assim, depois de tantos milênios de bebedeira, a humanidade não descobriu a cura da ressaca. Quem primeiro buscou uma solução foram os gregos, aqueles grandes bebedores que proferiam belos discursos enlevados pelo vinho. Para eles, tomar vinho em copos de ametista, um tipo azulado de quartzo, prevenia a embriaguez (daí seu nome: a, “sem”, e methystos, “embriagado”, da raiz méthy, vinho). A quantidade de fórmulas para curar a ressaca é vasta como a diversidade de destilados e fermentados existentes. Mas, até prova em contrário, “não há evidência de nenhuma intervenção efetiva para prevenir ou tratar a ressaca”, disseram médicos ingleses, em 2005, no British Medical Journal.
Eles testaram 40 ingredientes do kit mundial de primeiros socorros contra a ressaca. Alguns exemplos: beber água, café, chá verde, suco de frutas, milk-shake, uma colher de azeite, molho inglês ou tabasco; respirar ar fresco; fazer exercícios físicos; tomar mel, aspirina, paracetamol ou vitaminas; comer banana, gengibre, carvão, pizza ou repolho; tomar um banho quente, ir para baixo do chuveiro – ou continuar bebendo. Nesta categoria se enquadra um clássico como o Bloody Mary. Os médicos ingleses investigaram até mesmo a pílula R U 21, supostamente criada pela KGB, o antigo serviço secreto soviético, para permitir aos agentes se manter sóbrios ao embebedar suspeitos para obter informações.
A moda mais recente são as bebidas energéticas, como o Red Bull, ingeridas com álcool. Os energéticos são à base de cafeína, um estimulante que mantém os consumidores despertos e prolonga a balada. “Os jovens dizem que ficam mais espertos. É uma sensação falsa”, diz Maria Lucia Souza-Formigoni, da Escola Paulista de Medicina. “Do ponto de vista da coordenação motora, estão bêbados. Um energético não é nada mais que uma xícara de café.”
Quanto mais bebemos, mais difícil fica para o organismo metabolizar o álcool ingerido. O resultado é a ressaca, considerada uma pequena síndrome de abstinência. A ingestão de um pouco de álcool, portanto, reduz a abstinência e ajuda o fígado a se recompor, daí a razão para um drinque como o Bloody Mary, criado por Fernand Petiot, no Harry’s New York Bar, em Paris, nos anos 1920. “Todo barman tem sua receita para curar a ressaca”, diz Lucivaldo Pereira da Silva, o Pereira, de 45 anos, que pilota o balcão do bar Astor, em São Paulo. “O pessoal pede, e eu receito o Bloody Mary.”
Para os leitores, Pereira criou um coquetel, o Luz del Fuego (leia as receitas ). Guilhermino Ribeiro Santos, de 54 anos, é desde 1974 o barman do tradicionalíssimo Pandoro, em São Paulo. Ele recomenda o Bull Shot. Para as mulheres, aconselha o coquetel de frutas. “Funciona”, diz. Talvez o método mais fácil de remediar a ressaca seja beber uma Caracu com ovo. Enquanto a dor de cabeça e o enjôo não passam, paciência e canja de galinha não fazem mal a ninguém. “A canja é imbatível”, afirma Pereira.
Coquetel de frutas
Luz del Fuego
Originalmente publicado em Época, em 12/09/2008.
Peter Moon
O vinho era consumido no Irã há 7 mil anos. Os antigos egípcios faziam 17 tipos de cerveja. Os arqueólogos suspeitam que o consumo de bebidas alcoólicas anteceda a invenção da agricultura, há 10 mil anos. Mesmo assim, depois de tantos milênios de bebedeira, a humanidade não descobriu a cura da ressaca. Quem primeiro buscou uma solução foram os gregos, aqueles grandes bebedores que proferiam belos discursos enlevados pelo vinho. Para eles, tomar vinho em copos de ametista, um tipo azulado de quartzo, prevenia a embriaguez (daí seu nome: a, “sem”, e methystos, “embriagado”, da raiz méthy, vinho). A quantidade de fórmulas para curar a ressaca é vasta como a diversidade de destilados e fermentados existentes. Mas, até prova em contrário, “não há evidência de nenhuma intervenção efetiva para prevenir ou tratar a ressaca”, disseram médicos ingleses, em 2005, no British Medical Journal.
Eles testaram 40 ingredientes do kit mundial de primeiros socorros contra a ressaca. Alguns exemplos: beber água, café, chá verde, suco de frutas, milk-shake, uma colher de azeite, molho inglês ou tabasco; respirar ar fresco; fazer exercícios físicos; tomar mel, aspirina, paracetamol ou vitaminas; comer banana, gengibre, carvão, pizza ou repolho; tomar um banho quente, ir para baixo do chuveiro – ou continuar bebendo. Nesta categoria se enquadra um clássico como o Bloody Mary. Os médicos ingleses investigaram até mesmo a pílula R U 21, supostamente criada pela KGB, o antigo serviço secreto soviético, para permitir aos agentes se manter sóbrios ao embebedar suspeitos para obter informações.
A moda mais recente são as bebidas energéticas, como o Red Bull, ingeridas com álcool. Os energéticos são à base de cafeína, um estimulante que mantém os consumidores despertos e prolonga a balada. “Os jovens dizem que ficam mais espertos. É uma sensação falsa”, diz Maria Lucia Souza-Formigoni, da Escola Paulista de Medicina. “Do ponto de vista da coordenação motora, estão bêbados. Um energético não é nada mais que uma xícara de café.”
Quanto mais bebemos, mais difícil fica para o organismo metabolizar o álcool ingerido. O resultado é a ressaca, considerada uma pequena síndrome de abstinência. A ingestão de um pouco de álcool, portanto, reduz a abstinência e ajuda o fígado a se recompor, daí a razão para um drinque como o Bloody Mary, criado por Fernand Petiot, no Harry’s New York Bar, em Paris, nos anos 1920. “Todo barman tem sua receita para curar a ressaca”, diz Lucivaldo Pereira da Silva, o Pereira, de 45 anos, que pilota o balcão do bar Astor, em São Paulo. “O pessoal pede, e eu receito o Bloody Mary.”
Para os leitores, Pereira criou um coquetel, o Luz del Fuego (leia as receitas ). Guilhermino Ribeiro Santos, de 54 anos, é desde 1974 o barman do tradicionalíssimo Pandoro, em São Paulo. Ele recomenda o Bull Shot. Para as mulheres, aconselha o coquetel de frutas. “Funciona”, diz. Talvez o método mais fácil de remediar a ressaca seja beber uma Caracu com ovo. Enquanto a dor de cabeça e o enjôo não passam, paciência e canja de galinha não fazem mal a ninguém. “A canja é imbatível”, afirma Pereira.
Coquetel de frutas
Ingredientes
40 ml de suco de uva
40 ml de suco de laranja
20 ml de suco de abacaxi
Gotas de groselha
Pedaços de frutas
Preparo
Misture tudo num copo longo. Acrescente pedaços de frutas e gelo a gosto.
Bull Shot
Ingredientes
100 ml de vodca
80 ml de caldo de carne
1 colher de suco de limão
2 gotas de tabasco
1 pitada de sal
Preparo
Misture num copo longo, com gelo a gosto.
Bloody Mary
Ingredientes
100 ml de vodca
100 ml de suco de tomate
10 ml de suco de limão
10 ml de molho inglês
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Preparo
Misture tudo num copo baixo com 5 ou 6 pedras de gelo.
Luz del Fuego
Ingredientes
100 ml de tequila
100 ml de suco de tomate
20 ml de xerez
10 ml de suco de limão
10 ml de molho inglês
Sal de aipo
Preparo
Misture a tequila, o suco, o xerez e o molho inglês com gelo. Coe e sirva numa taça de martíni com a borda encrostada de suco de limão e sal de aipo
Originalmente publicado em Época, em 12/09/2008.
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