O tetravô do T. rex tinha o tamanho de um pastor alemão.
Viveu na Argentina há 230 milhões de anos.
Peter Moon
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"É o deleite de qualquer paleontólogo acordar de manhã, sair da barraca e se ver cercado pelo mais extraordinário cemitério fóssil que se possa imaginar”, escreveu em 1958 o paleontólogo americano Alfred Romer, a respeito dos tesouros do Vale da Lua. Como o nome indica, o Vale da Lua é uma região árida e desolada, situada ao pé da cordilheira dos Andes, na região de Ischigualasto, noroeste da Argentina. Suas rochas, desprovidas de vegetação, são responsáveis pela alegria de Romer e de gerações de paleontólogos. As rochas do Vale da Lua têm 230 milhões de anos. Delas saíram os fósseis dos dinossauros mais antigos conhecidos. No período Triássico, a região era uma planície alagada com florestas de araucárias de 40 metros de altura. Naquele pântano vivia um pequeno dinossauro bípede e carnívoro, o Eodromaeus (o “corredor da alvorada”, em grego). Do focinho à ponta da cauda, o Eodromaeus tinha um metro. Seus dentes eram serrilhados, as garras afiadas e, possivelmente, era coberto de penas. A espécie é considerada o antepassado comum dos dinossauros carnívoros - cujas estrelas são o Tiranossauro rex e o velociraptor. O Eodromaeus seria também o mais remoto ancestral de todas as aves, que descendem dos dinossauros carnívoros.
A descrição do Eodromaeus foi publicada semana passada na revista Science. A nova espécie foi pesquisada a partir de dois esqueletos parciais, achados pelo paleontólogo argentino Ricardo Martínez, da Universidade Nacional de San Juan, e seu colega americano Paul Sereno, da Universidade de Chicago. Em 1996, Martínez e Sereno notaram uma pequena vértebra petrificada aflorando no solo endurecido. Foram necessários 14 anos de cuidadosa preparação para libertar da rocha o delicado fóssil. “Foi um espécime extraordinariamente difícil de limpar”, diz Sereno.
“O novo espécime é notável”, diz o paleontólogo americano Sterling Nesbitt, da Universidade de Washington. “É completo o bastante para contribuir substancialmente ao nosso conhecimento” dos primeiros dinossauros. A descoberta é importante por não deixar dúvida de que, há 230 milhões de anos, o Eodromaeus era um predador. Vale dizer que, à época, os dinossauros haviam evoluído o suficiente para divergir nos três grandes ramos conhecidos. Dois grupos eram formados por quadrúpedes herbívoros, o dos pescoçudos gigantes (como o titanossauro) e o dos parrudões chifrudos (como o triceratops). O terceiro grupo era bípede e carnívoro. O Eodromaeus é seu mais antigo representante. Os três ramos evoluíram de um ancestral comum, o primeiro dinossauro. Sua identidade é um mistério. A descoberta do Eodromaeus fornece uma pista. Fosse ele quem fosse, o primeiro dinossauro viveu há mais de 230 milhões de anos. Onde e quando? Isto ainda ninguém sabe.
Publicado originalmente em Época Online, em 13/01/2011.
Viveu na Argentina há 230 milhões de anos.
Peter Moon
Há 230 milhões de anos, havia um pantanal no Vale da Lua (acima), na região de Ischigualasto, na Argentina |
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"É o deleite de qualquer paleontólogo acordar de manhã, sair da barraca e se ver cercado pelo mais extraordinário cemitério fóssil que se possa imaginar”, escreveu em 1958 o paleontólogo americano Alfred Romer, a respeito dos tesouros do Vale da Lua. Como o nome indica, o Vale da Lua é uma região árida e desolada, situada ao pé da cordilheira dos Andes, na região de Ischigualasto, noroeste da Argentina. Suas rochas, desprovidas de vegetação, são responsáveis pela alegria de Romer e de gerações de paleontólogos. As rochas do Vale da Lua têm 230 milhões de anos. Delas saíram os fósseis dos dinossauros mais antigos conhecidos. No período Triássico, a região era uma planície alagada com florestas de araucárias de 40 metros de altura. Naquele pântano vivia um pequeno dinossauro bípede e carnívoro, o Eodromaeus (o “corredor da alvorada”, em grego). Do focinho à ponta da cauda, o Eodromaeus tinha um metro. Seus dentes eram serrilhados, as garras afiadas e, possivelmente, era coberto de penas. A espécie é considerada o antepassado comum dos dinossauros carnívoros - cujas estrelas são o Tiranossauro rex e o velociraptor. O Eodromaeus seria também o mais remoto ancestral de todas as aves, que descendem dos dinossauros carnívoros.
O Eodromeus murphi tinha o tamanho de um gato. É o provável ancestral dos dinossauros bípedes carnívoros. |
A descrição do Eodromaeus foi publicada semana passada na revista Science. A nova espécie foi pesquisada a partir de dois esqueletos parciais, achados pelo paleontólogo argentino Ricardo Martínez, da Universidade Nacional de San Juan, e seu colega americano Paul Sereno, da Universidade de Chicago. Em 1996, Martínez e Sereno notaram uma pequena vértebra petrificada aflorando no solo endurecido. Foram necessários 14 anos de cuidadosa preparação para libertar da rocha o delicado fóssil. “Foi um espécime extraordinariamente difícil de limpar”, diz Sereno.
Seu pequenino crânio, de 230 milhões de anos. |
“O novo espécime é notável”, diz o paleontólogo americano Sterling Nesbitt, da Universidade de Washington. “É completo o bastante para contribuir substancialmente ao nosso conhecimento” dos primeiros dinossauros. A descoberta é importante por não deixar dúvida de que, há 230 milhões de anos, o Eodromaeus era um predador. Vale dizer que, à época, os dinossauros haviam evoluído o suficiente para divergir nos três grandes ramos conhecidos. Dois grupos eram formados por quadrúpedes herbívoros, o dos pescoçudos gigantes (como o titanossauro) e o dos parrudões chifrudos (como o triceratops). O terceiro grupo era bípede e carnívoro. O Eodromaeus é seu mais antigo representante. Os três ramos evoluíram de um ancestral comum, o primeiro dinossauro. Sua identidade é um mistério. A descoberta do Eodromaeus fornece uma pista. Fosse ele quem fosse, o primeiro dinossauro viveu há mais de 230 milhões de anos. Onde e quando? Isto ainda ninguém sabe.
O esqueleto remontado do bicho, como deveria ter sido em vida, há 230 milhões de anos. |
Publicado originalmente em Época Online, em 13/01/2011.
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