Peter Moon
Liszt levava as damas à loucura, como nesta gravura de concerto em em 1842 |
O Oxford english dictionary registra que o termo “beatlemania” foi usado pela primeira vez em dezembro de 1963 pelo diário londrino Times, como um fenômeno “que se expressa em bolsas, balões e outros artigos que lembram os objetos de adoração ou nos gritos histéricos de moças sempre que o quarteto Beatles se apresenta em público”. Engana-se, porém, quem pensa que a tietagem nasceu nos anos 1960. Em 1842, o poeta alemão Heinrich Heine cunhou o termo “Lisztmania” para identificar um fenômeno em tudo semelhante ao observado nos concertos do pianista húngaro Franz Liszt (1811-1886). Um especialista em doenças femininas consultado por Heine especula longamente sobre a histeria em massa num espaço confinado. Ela seria provocada, diz ele, por um “afrodisíaco musical”.
Qualquer que fosse a causa, as mulheres usavam a imagem de Liszt em camafeus e broches e brigavam para recolher os resíduos de sua xícara de café. Também dilaceravam seus lenços e luvas, exibiam as guimbas de seus charutos em medalhões incrustados com diamantes e transformavam suas cordas de piano descartadas em braceletes. Uma caricatura de um concerto de Liszt em Berlim em 1842 (acima) mostra mulheres excitadas berrando e desmaiando. Elas tentavam invadir o palco, dissecavam seus movimentos com binóculos da primeira fila e atiravam flores enquanto ele tocava. Alto, dono de um rosto harmonioso e grandes olhos claros, Liszt não faria feio com uma guitarra na mão e os longos cabelos castanhos ao vento. Era um astro pop antes do tempo. “Hoje em dia, o que mudou foi só a natureza dos objetos lançados”, lê-se em O triunfo da música – A ascensão dos compositores, dos músicos e de sua arte (Companhia das Letras, 424 páginas, R$ 56), do historiador inglês Tim Blanning, da Universidade de Cambridge.
Liszt deu um novo significado à palavra virtuose. Seu domínio superlativo da técnica era só o primeiro passo na construção de sua imagem pública, para a qual contribuíam muita teatralidade, lances de publicidade e uma biografia “misteriosa”. Alguma semelhança com os famosos atuais? Na Europa de 1840, mesmo a nobreza disputava lugares para ver Liszt tocar. Era uma mudança radical diante da posição dos músicos em 1791. Esse foi o ano da libertação de Franz Joseph Haydn (o inventor da sinfonia e das sonatas) das amarras que o mantiveram preso por 30 anos ao príncipe Esterházy, para quem compunha e tocava com exclusividade. Em 1780, quando sua fama já corria a Europa, Haydn ainda era obrigado a comer com os serviçais. Em seu tempo, os artistas – mesmo os gênios – eram ralé. Esterházy morreu em 1791 e Haydn fugiu na primeira carruagem. Foi a Londres ser ovacionado. Passados 200 anos, Londres é a mesma, a histeria coletiva também. Mas os ídolos são astros pop – legítimos herdeiros dos clássicos.Qualquer que fosse a causa, as mulheres usavam a imagem de Liszt em camafeus e broches e brigavam para recolher os resíduos de sua xícara de café. Também dilaceravam seus lenços e luvas, exibiam as guimbas de seus charutos em medalhões incrustados com diamantes e transformavam suas cordas de piano descartadas em braceletes. Uma caricatura de um concerto de Liszt em Berlim em 1842 (acima) mostra mulheres excitadas berrando e desmaiando. Elas tentavam invadir o palco, dissecavam seus movimentos com binóculos da primeira fila e atiravam flores enquanto ele tocava. Alto, dono de um rosto harmonioso e grandes olhos claros, Liszt não faria feio com uma guitarra na mão e os longos cabelos castanhos ao vento. Era um astro pop antes do tempo. “Hoje em dia, o que mudou foi só a natureza dos objetos lançados”, lê-se em O triunfo da música – A ascensão dos compositores, dos músicos e de sua arte (Companhia das Letras, 424 páginas, R$ 56), do historiador inglês Tim Blanning, da Universidade de Cambridge.
Publicado originalmente em Época, em 28/01/2011.
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