AS CINCO IDADES DO UNIVERSO - PARTE 9
PETER MOON
Há alguns meses, convidei os leitores da coluna para realizar comigo um passeio mental através do espaço. A viagem tinha dois destinos, o astronomicamente imenso e o subatomicamente ínfimo. Em Qual é o tamanho do universo?, saímos do planeta Terra para imaginar as distâncias que nos separam da Lua, do Sol, das bordas do sistema solar, dos limites da Via Láctea e da galáxia de Andrômeda, até as fronteiras do cosmo a 13,7 bilhões de anos-luz de distância.
Em “Qual é o tamanho do microcosmo?” o sentido foi o inverso. Rumo aos recônditos inescrutáveis da matéria, nós mergulhamos num profundo abismo microscópico cujas dimensões eram bilhões de trilhões de trilhões de vezes menores que as das células, vírus, átomos e elétrons. Só assim, graças a artifícios, metáforas e analogias, foi possível realocar as dimensões microcósmicas e macrocósmicas dentro de uma escala de compreensão humana. Pensar o imensamente pequeno e o imensamente grande é difícil, mas não impossível.
Com o tempo, a história é diferente. O tempo pode ser finito ou infinito. O universo tem 13,7 bilhões de anos. Em outras palavras, 13,7 bilhões de anos é o lapso de tempo decorrido desde o Big Bang, a explosão que lançou matéria e energia em todas as dimensões, impulsionando as sementes que viriam a evoluir para formar estrelas, planetas e galáxias. Quando o universo tinha cerca de 9 bilhões de anos, no interior de uma nuvem de hidrogênio e poeira que pairava num canto sem importância de uma galáxia em espiral como bilhões de outras, forças gravitacionais começaram a agir para incendiar uma estrela em formação. Cerca de 99% de todo o gás da nuvem acabou concentrado no objeto estelar que chamamos de Sol. Do 1% restante, fizeram-se os planetas. Isso foi há 4,5 bilhões de anos.
A Terra e o sistema solar são muito, muito antigos. Assim mesmo, são jovens quando comparados ao universo, este três vezes mais antigo. Usando os 4,5 bilhões de anos da Terra como parâmetro de comparação, os 13,7 bilhões de anos da idade atual do universo tornam-se um lapso de tempo compreensível. Assim mesmo, 13,7 bilhões de anos é muito tempo. É todo o tempo decorrido no universo. Nada é mais antigo. Daí a estranheza que causa saber que a idade atual do universo não passa de um breve momento quando imaginamos, ou melhor, quando aceitamos, que à nossa frente quem aguarda é o infinito.
Os limites da era estelífera
O tempo teve um começo. Foi lá atrás, no Big Bang. Não terá fim. Dentro de 5 ou 6 bilhões de anos, nosso Sol morrerá e com ele toda a chance de vida no planeta Terra. Mas novas bilhões estrelas continuarão a se formar na Via Láctea. Ao redor delas orbitarão futuros trilhões de mundos. Eles abrigarão zilhões de formas de vida que evoluirão e desaparecerão, num ciclo de criação e destruição que irá perdurar enquanto restar hidrogênio nas nuvens interestelares capaz de formar novas estrelas.
Um dia, daqui 100 trilhões de anos, todo o hidrogênio disponível para alimentar as fornalhas atômicas de todas as estrelas de todas as galáxias terá sido consumido. Um dia, daqui 100 trilhões de anos, não haverá mais combustível para fertilizar estrelas. Quando o universo for 7 mil vezes mais velho do que hoje, as estrelas no firmamento começarão a apagar. Nenhuma outra acenderá para tomar seu lugar. O candelabro estelar que havia sido aceso no Big Bang desligará para sempre.
Quando as últimas estrelas morrerem, o cosmo mergulhará no escuro perfeito. Caso alguma civilização inteligente consiga sobreviver na superfície de planetas moribundos, seus habitantes olharão os céus apenas para ter a completa dimensão da própria solidão. O céu será retinto. Qualquer galáxia, estrela ou planeta que existir lá em cima estará oculta - e perdida - para todo o sempre.
Mas o futuro é infinito. E o universo ainda será jovem.
A Era Estelífera, aquela em que vivemos e que é dominada por gerações sucessivas de estrelas que iluminam os 400 bilhões de galáxias do universo visível, será sucedida pela Era da Degenerescência. Daqui 100 trilhões de anos, o cosmo será dominado por trilhões de objetos astronômicos mortos, buracos-negros gigantes e galáxias esclerosadas.
O universo ainda será jovem. Muita coisa haverá para acontecer.
Fonte: The Five Ages of the Universe: Inside the Physics of eternity (1999), de Fred Adams e Greg Laughli. Free Press.
continua em: A eternidade antes da eternidade
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